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segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Famílias em SP relatam apreensão em contato com parentes no Egito
Quem está no país em crise sofre com a violência e a falta de comida.
Protestos pela renúncia do presidente entraram no 7º dia nesta segunda


Moradores de São Paulo que têm parentes no Egito temem um corte geral nas comunicações e o fim de alimentos e água para seus familiares que estão no país. Nesta segunda-feira (31), os protestos que exigem a renúncia do presidente Hosni Mubarak, no poder há 30 anos, entraram no sétimo dia. Até agora, pelo menos 100 pessoas morreram desde o começo das manifestações, na última terça-feira (25).

Dono de uma agência de viagens especializada no país, o egípcio Mohammed Youssef Mostafa, de 27 anos, tem duas preocupações – sua família e clientes que não conseguem voltar para o Brasil. A mãe e quatro irmãos dele moram em Port Said, e, durante os contatos precários pelo telefone, relatam a violência na cidade.



“Todos os jovens da minha família estão na frente dos prédios para proteger as famílias dos ataques dos criminosos que saíram das prisões. Minha mãe falou que não tem comida em casa, no supermercado. A situação está se apertando mais ainda, a gente não sabe o que fazer. Não estou conseguindo dormir. Ligo para minha mãe e ela está chorando, estou desesperado”, disse ele





Mohammed vive no Brasil há cinco anos – ele se mudou logo após a formatura em engenharia, devido às precárias condições de emprego no país. “Vim para o Brasil porque a economia era muito complicada no país, e vem se complicando mais ainda. Se eu não tivesse vindo para cá, não
teria como ajudar a minha família a sobreviver”,
disse ele.Mesmo sabendo das dificuldades, ele reclama da violência dos protestos. “O povo egípcio tem todo o direito de se defender, de tentar um futuro melhor para as próximas gerações, para as atuais. O que não é certo é a falta de civilização, como queimar prédios, queimar partido político, entrar em delegacia e soltar presos”, afirmou ele. “Ninguém merece passar por isso. Especialmente que o nosso país, que é um país de paz, mais de 30 anos que não tinha nada complicado como isso. O Egito tinha orgulho de falar que tinha segurança. Hoje não posso falar isso.”

Para o empresário, o motivo dos protestos é válido, mas não o modo como eles têm sido feitos. “O presidente do Egito está certo em tentar segurar a situação, mas não concordo com quebrar valores da democracia, cortar telefone, internet. Isso é quebra de todos os valores da democracia e das esperanças que a gente tem de um futuro melhor para o nosso país. É uma confirmação que é uma ditadura e não vai mudar.”

Mohammed com a mãe nas pirâmides do Egito - ela relata fim da comida e violência no país (Foto: Arquivo Pessoal)


Turistas
Mohammed também se preocupa com seus clientes. Enquanto falava com a reportagem, recebeu notícias de uma família que estava no país por sua agência – eles haviam acabado de chegar ao Rio de Janeiro. Outra cliente, uma mulher que viajou sozinha, foi levada para a casa de seu sócio enquanto não consegue embarcar.

“Já recebi ligações, um cliente hoje que iria com a família está querendo mudar de destino, estou conversando com as autoridades, para saber se pode ir ou não, ainda estamos em uma situação não definida”, afirmou o empresário
.



Marido distante
Um dos quatro irmãos de Mohammed que vive no Brasil está passando férias no Egito para visitar a família, deixando sua mulher brasileira apreensiva. “Ele foi dia 14 de janeiro, estava tudo normal, tranquilo. Agora começou essa bagunça. As poucas vezes que falei com ele foram porque ele ligou do celular, outra vez ele conseguiu ligar da casa da mãe dele”, contou a dona de casa Faizeh Mansur Darwich, de 29 anos. “Ele falou que a situação está bem difícil. Na cidade em que ele está o combustível acabou, a comida está começando a acabar. Eles estão com muito receio de acabar a água.”

“A gente tem uma filha de 4 anos, ela fica perguntando do pai, eu fico muito preocupada, torcendo para que nada aconteça. De uma lado foi bom que ele está lá, pode proteger a mãe, a família, mas fica nessa bagunça. Espero que se resolva logo. Ele falou que enquanto estiver assim ele não vai deixar a família dele lá. Eu tenho que apoiar também, porque é a mãe dele. Eu faria o mesmo pela minha mãe”, contou a dona de casa.

Tanto Faizeh quanto Mohammed concordam que os protestos tomaram uma proporção muito grande, que está prejudicando a população. “No inicio foram as pessoas da alta sociedade que comandaram as manifestações, com paz. Mas infelizmente entraram pessoas que tentaram estragar tudo isso. Acreditamos que pessoas do próprio governo se infiltraram para que os protestos perdessem o controle. Foi o que todo mundo no Egito me passou”, disse o empresário.

“Realmente a vida lá é difícil, qualquer um quer uma coisa melhor para o país. Mas podia ser mais pacífico. É complicado quando envolve política, às vezes acaba saindo fora do controle”, afirmou a dona de casa.

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